Estudos sobre gripe aviária são interrompidos por ordem de Trump
A intervenção política nos relatórios científicos do CDC (Centros de Controle e Prevenção de Doenças) sobre gripe aviária gera preocupações sobre censura e os riscos à saúde pública, impactando veterinários e a transmissão entre animais, o que pode afetar a prevenção de pandemias.
A gripe aviária enfrenta novos desafios com a intervenção da administração Trump, que interrompeu a publicação de relatórios científicos cruciais. Estudos que investigam infecções em veterinários e transmissão para animais de estimação foram adiados, gerando preocupações sobre censura e integridade científica.
Intervenção na publicação de estudos científicos
A administração Trump ordenou uma pausa imediata na comunicação de agências federais de saúde, afetando a publicação de estudos científicos sobre a gripe aviária. Essa decisão foi implementada por Dorothy Fink, secretária interina do Departamento de Saúde e Serviços Humanos, e exige que qualquer documento destinado à publicação seja revisado e aprovado por um indicado presidencial.
Essa intervenção gerou preocupações entre ex-funcionários do CDC, que destacam a importância de manter uma barreira entre relatórios científicos e nomeações políticas. Tom Frieden, ex-diretor do CDC, afirmou que o MMWR é a “voz da ciência” e que a ciência não deve ser filtrada por um viés político.
Anne Schuchat, ex-diretora adjunta do CDC, expressou preocupações sobre a censura, afirmando que a ciência não deve ser interrompida por uma lente política. A interrupção dos relatórios científicos, como o MMWR, poderia prejudicar a capacidade do governo dos EUA de detectar e conter ameaças à saúde pública.
Impacto nos veterinários e transmissão para animais de estimação
Os estudos interrompidos pela administração Trump poderiam trazer informações valiosas sobre a gripe aviária e seu impacto em veterinários e animais de estimação.
Um dos estudos visava investigar se veterinários que tratam gado foram infectados sem saber pelo vírus da gripe aviária. A pesquisa envolveu a coleta de amostras de sangue de cerca de 150 veterinários para detectar anticorpos contra o vírus.
Além disso, outro estudo explorava a possibilidade de transmissão do vírus de pessoas para seus gatos de estimação. Essas investigações são cruciais para entender melhor a disseminação do vírus e desenvolver estratégias de prevenção para proteger tanto os profissionais de saúde animal quanto os animais domésticos.
Os resultados dessas pesquisas poderiam ajudar a reduzir infecções entre veterinários e, consequentemente, diminuir o risco de evolução do vírus H5N1 para uma forma que se espalhe mais facilmente entre humanos, evitando assim uma potencial pandemia de gripe aviária.
Histórico de interferências políticas na ciência
A interferência política na publicação de relatórios científicos não é um fenômeno novo, especialmente durante a administração Trump. Documentos de investigação do Congresso revelaram que, em 2020, nomeados políticos do Departamento de Saúde e Serviços Humanos (HHS) alteraram ou atrasaram a divulgação de relatórios do CDC sobre a Covid-19. Isso incluiu tentativas de controlar a narrativa de publicações científicas críticas.
Paul Alexander, então conselheiro científico do HHS, foi um dos responsáveis por criticar e tentar modificar relatórios que não alinhavam com a mensagem política desejada. Em um caso, ele pressionou para que um relatório sobre um surto de coronavírus em um acampamento de verão na Geórgia fosse alterado, removendo implicações sobre a reabertura de escolas.
Essas ações geraram preocupações sobre a integridade científica e a independência do CDC, uma agência que historicamente operou com autonomia para garantir que suas descobertas fossem baseadas em evidências e não influenciadas por agendas políticas. A continuidade dessas práticas ameaça a confiança pública e a eficácia das respostas de saúde pública.
Consequências para a saúde pública e prevenção de pandemias
A interrupção na publicação de relatórios científicos pelo CDC pode ter sérias consequências para a saúde pública e a prevenção de pandemias. Os relatórios do MMWR são cruciais para manter o país informado sobre surtos, envenenamentos e mortalidade materna, além de fornecer dados de vigilância sobre doenças como câncer, doenças cardíacas e HIV.
Ao atrasar ou manipular esses relatórios, a capacidade do governo dos EUA de detectar e conter ameaças à saúde é comprometida. Especialistas alertam que a falta de dados atualizados pode dificultar a resposta a emergências de saúde pública e a implementação de medidas preventivas eficazes.
Além disso, a interrupção desses relatórios pode prejudicar a colaboração internacional em saúde, já que informações precisas e oportunas são essenciais para combater ameaças globais, como a gripe aviária. A transparência e a comunicação aberta são fundamentais para a confiança pública e para garantir que as respostas às crises de saúde sejam baseadas em evidências científicas sólidas.