Conflito Minerário Ameaça Comunidades na República Dominicana

O conflito minerário em Cotuí, na República Dominicana, envolve a Barrick Gold e a comunidade local, com tensões relacionadas ao reassentamento de 653 famílias e questões de compensação. As negociações buscam um equilíbrio entre o desenvolvimento econômico e os direitos da comunidade, enquanto protestos exigem soluções justas e sustentáveis diante das preocupações ambientais e sociais.

O conflito minerário em Cotuí, República Dominicana, está reacendendo tensões entre a comunidade local e a mineradora canadense Barrick Gold. O projeto de expansão da mina promete modernizar operações, mas para muitos representa deslocamento forçado, compensações inadequadas e riscos ambientais. O embate coloca em risco 653 famílias, enquanto as negociações continuam tensas.

Histórico do Conflito em Cotuí

O conflito minerário em Cotuí, localizado na região central da República Dominicana, remonta a várias décadas, com a chegada de grandes empresas mineradoras.

A tensão atual gira em torno da Barrick Gold, uma multinacional canadense que opera na mina de ouro Pueblo Viejo, uma das maiores do mundo.

Desde o início das operações em 2006, a relação entre a empresa e as comunidades locais tem sido marcada por disputas sobre compensações financeiras, condições de reassentamento e impactos ambientais.

Em 2013, um acordo foi renegociado para aumentar os benefícios econômicos para o país, mas as comunidades ainda enfrentam desafios significativos.

O recente projeto de expansão da mina, que inclui a construção de um novo depósito de rejeitos, reacendeu conflitos antigos, levando a protestos e confrontos com as forças de segurança.

Os moradores de Cotuí, especialmente das comunidades de El Naranjo e Las Tres Bocas, têm expressado preocupação com o deslocamento forçado e a perda de suas terras agrícolas.

A história do conflito é um reflexo das complexas relações entre desenvolvimento econômico e direitos das comunidades locais, destacando a necessidade de soluções sustentáveis e justas para todos os envolvidos.

Impacto do Projeto Minerário na Comunidade

O projeto minerário em Cotuí tem gerado impactos significativos na comunidade local, tanto positivos quanto negativos. A promessa de modernização da mina de ouro Pueblo Viejo vem acompanhada de preocupações sobre o deslocamento de famílias e a mudança no modo de vida dos moradores.

Para muitos, o projeto representa uma oportunidade de desenvolvimento econômico, com a criação de empregos e a melhoria da infraestrutura local. No entanto, os benefícios econômicos são ofuscados por questões de justiça social e ambiental. Cerca de 653 famílias enfrentam o risco de reassentamento forçado, com compensações consideradas insuficientes pelos moradores.

Além disso, a comunidade tem manifestado preocupações sobre a degradação ambiental e a contaminação dos recursos hídricos, que afetam diretamente a agricultura e a saúde dos residentes. A tensão entre a necessidade de progresso econômico e a proteção dos direitos e do ambiente das comunidades continua a ser um ponto central de debate em Cotuí.

O impacto do projeto minerário estende-se também à coesão social, com divisões entre aqueles que apoiam a expansão da mina e aqueles que a veem como uma ameaça ao seu modo de vida tradicional. A situação demanda um equilíbrio cuidadoso entre desenvolvimento e sustentabilidade para garantir um futuro justo e próspero para todos os envolvidos.

Desafios das Negociações de Reassentamento

Os desafios das negociações de reassentamento em Cotuí são complexos e multifacetados, refletindo as tensões entre a Barrick Gold e as comunidades locais. O principal obstáculo é a discrepância entre o valor oferecido pela mineradora para as terras e o que os moradores consideram justo.

Muitos residentes expressam insatisfação com as compensações propostas, que são vistas como inadequadas para cobrir a perda de propriedades e meios de subsistência.

Além disso, a quantidade de famílias que precisam ser reassentadas e as condições das novas moradias são pontos críticos nas negociações. Inicialmente, a empresa estimou que 850 famílias seriam afetadas, mas o número foi revisado para 653, gerando descontentamento entre aqueles que se sentem excluídos do processo.

Outro desafio é a resistência cultural e emocional dos moradores em deixar suas terras ancestrais. Muitos têm laços profundos com suas propriedades, que não são apenas fontes de renda, mas também de identidade e tradição. A proposta de deslocamento para áreas urbanas ou residências de concreto é vista com ceticismo, pois implica uma ruptura com o modo de vida rural e agrícola.

As negociações são ainda complicadas por questões legais e burocráticas, como a validação de títulos de propriedade e o cumprimento de normas internacionais de reassentamento. A falta de transparência e comunicação eficaz entre a mineradora, o governo e os moradores agrava a situação, aumentando a desconfiança e a resistência ao projeto.

Questões Ambientais e Riscos Associados

As questões ambientais e os riscos associados ao projeto minerário de Cotuí são preocupações centrais para a comunidade e os ambientalistas. A operação da Barrick Gold em Pueblo Viejo já levantou alertas sobre a contaminação de recursos hídricos, como o arroyo El Naranjo, afetado por resíduos da mineração.

O projeto de expansão, que inclui a construção de uma nova barragem de rejeitos, aumenta os temores de danos ambientais. Especialistas como Steven H. Emerman apontam para o potencial “catastrófico” de acidentes com barragens, que poderiam liberar grandes quantidades de resíduos tóxicos no meio ambiente.

Os impactos na biodiversidade local e a degradação do solo são outras preocupações. A mineração pode levar à perda de habitat para espécies nativas e reduzir a fertilidade das terras agrícolas, prejudicando a produção de alimentos e a subsistência dos agricultores locais.

Além disso, a emissão de poeira e poluentes atmosféricos durante as operações pode afetar a saúde das comunidades próximas. A falta de medidas de mitigação adequadas e de monitoramento ambiental rigoroso agrava os riscos para o ecossistema e a população.

Os críticos do projeto defendem a adoção de padrões mais rigorosos de segurança e sustentabilidade, como os Estándares Ambientales y Sociales (EAS) do Banco Mundial, para garantir que os interesses econômicos não superem a proteção ambiental e o bem-estar das comunidades.

Posição da Barrick Gold e Respostas Oficiais

A posição da Barrick Gold em relação ao projeto de expansão da mina de Pueblo Viejo é de que a iniciativa é essencial para a continuidade das operações e para o desenvolvimento econômico da República Dominicana. A empresa argumenta que a construção da nova barragem de rejeitos é necessária para armazenar de forma segura os resíduos gerados pela mineração, garantindo a sustentabilidade a longo prazo.

Juana Barceló, presidente da Barrick Gold Pueblo Viejo, enfatiza que a empresa está comprometida com práticas responsáveis e que as compensações oferecidas aos moradores afetados são justas e baseadas em padrões internacionais. Ela destaca que a Barrick Gold está disposta a revisar casos específicos e a ajustar compensações conforme necessário, visando minimizar os impactos sociais e ambientais.

Por outro lado, o governo dominicano, através do Ministério de Energia e Minas, apoia o projeto, argumentando que ele trará benefícios econômicos significativos, incluindo a geração de empregos e o aumento das receitas fiscais. As autoridades defendem a intervenção das forças de segurança para garantir o livre trânsito e a continuidade das operações, citando a importância estratégica da mineração para o país.

No entanto, as respostas oficiais enfrentam críticas de ambientalistas e líderes comunitários, que acusam o governo de priorizar interesses corporativos em detrimento dos direitos das comunidades locais. Eles clamam por maior transparência e participação pública no processo de decisão, alertando para os riscos ambientais e sociais associados ao projeto.

Reações das Comunidades Locais e Protestos

As comunidades locais de Cotuí têm reagido de forma veemente contra o projeto de expansão da Barrick Gold, expressando suas preocupações através de protestos e manifestações.

Os moradores, especialmente das comunidades de El Naranjo e Las Tres Bocas, têm se mobilizado para defender seus direitos e modos de vida ameaçados pelo reassentamento e pelas operações minerárias.

Em janeiro de 2025, um grupo de agricultores e líderes comunitários tentou bloquear o transporte de equipamentos pesados para a construção de uma nova barragem de rejeitos, resultando em confrontos com as forças de segurança.

Esses eventos evidenciam a tensão crescente entre a mineradora e os residentes, que exigem compensações justas e proteção ambiental.

Os protestos são alimentados por preocupações sobre a perda de terras agrícolas, a contaminação dos recursos hídricos e a insuficiência das compensações oferecidas.

Muitos moradores afirmam que as propostas de reassentamento não consideram adequadamente o valor cultural e econômico de suas propriedades e comunidades.

Além das manifestações físicas, as comunidades têm buscado apoio de organizações ambientais e de direitos humanos para pressionar por negociações mais justas.

A resistência local reflete um desejo coletivo de ser ouvido e de garantir que o desenvolvimento econômico não ocorra à custa do bem-estar social e ambiental.

Os protestos contínuos e a resistência das comunidades indicam que o conflito está longe de ser resolvido, sublinhando a necessidade de um diálogo aberto e inclusivo entre todas as partes envolvidas.

Perspectivas Futuras para a Região

As perspectivas futuras para a região de Cotuí estão intrinsecamente ligadas ao desenrolar do conflito entre a Barrick Gold e as comunidades locais. O sucesso ou fracasso das negociações de reassentamento e compensação terá um impacto duradouro na coesão social e no desenvolvimento econômico da área.

Se as partes conseguirem chegar a um acordo que equilibre os interesses econômicos e os direitos das comunidades, a região poderá se beneficiar de um crescimento sustentável. Isso incluiria melhorias na infraestrutura, aumento de empregos e maior investimento em serviços públicos, como educação e saúde.

No entanto, se as tensões persistirem, há o risco de que o conflito se intensifique, levando a mais protestos e possivelmente a uma intervenção governamental mais rigorosa. Isso poderia resultar em uma divisão ainda maior entre a mineradora e os moradores, comprometendo o desenvolvimento futuro.

Além disso, a atenção internacional sobre o caso pode influenciar as práticas de mineração no país, pressionando por padrões mais elevados de sustentabilidade e responsabilidade social. Organizações ambientais e de direitos humanos continuarão a monitorar a situação, buscando garantir que os direitos das comunidades sejam respeitados.

O futuro de Cotuí dependerá da capacidade das partes envolvidas de negociar de forma justa e transparente, priorizando o bem-estar das pessoas e a proteção ambiental. Somente assim a região poderá prosperar de maneira equilibrada e inclusiva.

Fonte: El País

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